quarta-feira, 5 de novembro de 2008


DESCOMPROMETIDO


Passas como o expresso carregando gentes e malas
E tens o lirismo dos expressos antigos,
Deitas em minha cama como quem se deita em casa
E dormes confortavelmente em meio ao meu desconforto
Beijas-me com furor e carinho ao mesmo temo, e tão opostos,
E prometes que não prometes como quem pede desculpas
Por querer prometer o que não terias prometido
Escutas meus infinitos, repetidos e inesperados monólogos,
E surpreendentemente os transforma em diálogos
Promoves, assim, em mim, uma sensação de felicidade,
Repleta da premonição da saudade, que desperta,
E depois adormece logo, ninada em teus braços,
Estes braços que então cumprem o descomprometido
Despertas a poesia, profundamente adormecida,
E o fazes qual fora príncipe com beijo suave e inesperado
Arrancas de mim uma entrega completa
Com a doçura de quem extrai sorrisos a uma criança
E eu sorrio ao mesmo tempo em que intuo uma lágrima
Que só cairá um instante antes do esquecimento

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