sexta-feira, 7 de novembro de 2008


PÁTRIA MÃE


Ouço um bebê chorando esganiçado no barraco ao lado, sua mãe, apartada de seu próprio leite, os peitos secos, olha o bebê ressecada como o chão da caatinga.


Os únicos líquidos que lhe restam escorrem desorientados pelas faces formando rios caudalosos, desesperados, envenenados, fugindo em direção ao mar sem fim, onde enfim não será mais preciso conviver com a secura infinita destes sulcos, destes peitos, destes poros entupidos de poeiras e tantos pós, que ela não se cansa de tentar varrer, para os ver cair sempre e sempre no mesmo lugar.


A criança chora esganiçada contemplada por sua mãe silenciosa, tão impotente, tão incapaz de lhe dar seu colo rasgado por erosões, plantações, queimadas, estradas e cicatrizes.


Desmatada, desmantelada, despojada de seus pássaros cantantes, a mãe emite o som surdo dos gases expelidos incessantemente para fora de si, enquanto contempla impotente o choro esganiçado que lhe cobra, logo a ela, a espoliada, tão impossível providência.

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