sábado, 15 de novembro de 2008

O Cigarro


Beijar esta pequena morte
Com concupiscência
Sentir-me afagada por lufadas dela, na face
Desejar, mais que quase nada mais, este afago
Sentir de novo este carinho
Beijá-lo na boca
Aspirá-lo
De novo
Mais uma vez
Ele não se furta
Olha para mim indiferente
Espera, suponho, que eu acabe logo
E eu já quase acabo
Mas não antes de esmagá-lo

domingo, 9 de novembro de 2008


UM PEÃO

Gigante, ameaçando El Rey.

Um pobre cavalo na retaguarda, mas não sobreviverá àquele movimento que ficará para a história

Pobre cavalo, contará talvez com um bispo que reverencie sua alma, mas é mais comum entre os bispos, simplesmente desprezar os cavalos, e bajular a exércitos e reinados.

Ninguém presta reverência a um cavalo morto, e muito menos poderá se esperar do bispo, que afinal é ministro Del Rey.

Mas ele é pequenino e não desiste, e se planta ali aos pés do bispo, fazendo orações. E o bispo se afasta ligeiro, repelido pelas rezas.

Que susto toma o rei ao encarar o peão: Ele não deveria estar aqui!

E de fato está certo. Para o seu bem, não deveria. Mas o seu bem, não é o bem do peão.

sábado, 8 de novembro de 2008


ESBAFORIDOS

Hoje passou esbaforido por mim. Lembrei de Alice.

Cheguei a perguntar: "Hoje, pra que tanta pressa?"... Mas ele já tinha entrado numa daquelas portinholas insondáveis da memória recente. Aquela em que se lembra de tudo imediatamente, e em dois dias não se lembra mais de nada.

Me faz medo um dia me ver envolvida num crime e ter que responder à polícia: Senhora, que roupa você vestia anteontem e o que fazia às 23:45 do último domingo de lua cheia no mês passado Hein?

Se meus hojes passam esbaforidos, os detalhes do passado se envolvem em névoa profunda... Senhor, sou levada a crer que eu vestia algo, estando na rua, mas não necessariamente se estivesse em casa... e quanto ao último domingo de lua cheia, tudo indica que devo ter estado uivando, mas não posso precisar nem apontar testemunhas, pois que muitas vezes uivo para dentro.

Algemas se fechando em meus pulsos, você tem direito a permanecer calada... Ufa! Foi um pesadelo! Aqui no Brasil não tem essa babaquice de ler os direitos... Salva da loucura por um lugar comum em filmes policiais americanos! Quem diria?

sexta-feira, 7 de novembro de 2008


PÁTRIA MÃE


Ouço um bebê chorando esganiçado no barraco ao lado, sua mãe, apartada de seu próprio leite, os peitos secos, olha o bebê ressecada como o chão da caatinga.


Os únicos líquidos que lhe restam escorrem desorientados pelas faces formando rios caudalosos, desesperados, envenenados, fugindo em direção ao mar sem fim, onde enfim não será mais preciso conviver com a secura infinita destes sulcos, destes peitos, destes poros entupidos de poeiras e tantos pós, que ela não se cansa de tentar varrer, para os ver cair sempre e sempre no mesmo lugar.


A criança chora esganiçada contemplada por sua mãe silenciosa, tão impotente, tão incapaz de lhe dar seu colo rasgado por erosões, plantações, queimadas, estradas e cicatrizes.


Desmatada, desmantelada, despojada de seus pássaros cantantes, a mãe emite o som surdo dos gases expelidos incessantemente para fora de si, enquanto contempla impotente o choro esganiçado que lhe cobra, logo a ela, a espoliada, tão impossível providência.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008


GOTAS DE SOLIDÃO


O meu amor por você pode ser medido em gotas de solidão,
Pode ser medido em respirações entrecortadas,
Pela expectativa de sua chegada,
Um milhão de vezes frustrada:
Um sonho a mais,
Uma realidade a menos,
Uma troca injusta,
Para a dona de uma imaginação ruim.

Ninguém mais só,
Nem mais enclausurada,
Dentro de um eterno escorrer de lágrimas,
Filhas de uma ponte quebrada,
Emanadas de uma fonte sem fim.
Ninguém mais escrava de você que eu!

Nem um jasmim,
Nem um jasmim para mim colhestes,
Nenhuma cama tem final feliz.

É uma solidão tão imensa,
É uma dor que da solidão se alimenta,
Essa tormenta sem mais, sem fim.
É uma tempestade de ungüento,
É um esperar-te intenso,
Que acaba em uma gota de fim.

Essa gota de esperar-te tão amarga,
Essa gota de mal amar-te enfim.

Você agora é um animal que geme em meio ao silêncio,
Devolve apenas essa parte de mim.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008


DESCOMPROMETIDO


Passas como o expresso carregando gentes e malas
E tens o lirismo dos expressos antigos,
Deitas em minha cama como quem se deita em casa
E dormes confortavelmente em meio ao meu desconforto
Beijas-me com furor e carinho ao mesmo temo, e tão opostos,
E prometes que não prometes como quem pede desculpas
Por querer prometer o que não terias prometido
Escutas meus infinitos, repetidos e inesperados monólogos,
E surpreendentemente os transforma em diálogos
Promoves, assim, em mim, uma sensação de felicidade,
Repleta da premonição da saudade, que desperta,
E depois adormece logo, ninada em teus braços,
Estes braços que então cumprem o descomprometido
Despertas a poesia, profundamente adormecida,
E o fazes qual fora príncipe com beijo suave e inesperado
Arrancas de mim uma entrega completa
Com a doçura de quem extrai sorrisos a uma criança
E eu sorrio ao mesmo tempo em que intuo uma lágrima
Que só cairá um instante antes do esquecimento

ETERNIDADE


Sonho com esse nada de acabar-se
Sonho com continuar-se o nada.
É como se respirasse em um lugar despoluído,
Mas também desprovido de ar.
Um vácuo vastíssimo,
Num largo cânion
Em profundo precipício.
Um estar sem você tão forte,
Que você fosse tudo
E restasse só um pouco de infinito
Para eu morar.
E um resto de infinito é um lugar
Antes de tudo, insalubre.
Em que oprime o peito a saudade
Do vasto eterno que ficou para trás.
Passou e continuou eterno:
A imagem de um oásis que jamais se apagou
Na mente do sedento que morreu.
A visão da água que desvaneceu
Na areia escaldante, escarlate
Do deserto.
A figura dos justos felizes,
No dia do Juízo Final
Eu, condenado!
Um sonho tão real que deixou vestígios materiais,
Porém quase intangíveis,
Como a lágrima que escorre
Antes do lenço chegar.
Como o suor que evapora
E abandona a sensação do sal.
Como você que está comigo,
Eu que te esmurro, te xingo,
E recebo a indiferença dos seres inanimados,
Nem mesmo um suspiro de nunca mais,
Nem mesmo um lamento de sinto muito,
Nem mesmo um conter de lágrimas,
Nem mesmo um nada me resta,
Pois você está ali:
A um toque da mão,
A uma imensidão do ser.
Você é uma pedra que caiu no lago.
Fará lodo, e em milênios,
Talvez milhênios,
Esvairá.
Nascerá um lago com propriedades medicinais,
Útil, feio e enferrujado,
Necessário como necessário é tentar pela última vez.
Lá, destruído, derretido,
Dormirá você.
Banhando a doença,
Lambendo uma crosta de fim.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Textos e Poesias


Conheço várias pessoas que têm blogs primorosos de poesias, textos e contos.


Sinceramente, a qualidade de seus textos, e talvez até um pouco de medo da crítica, sempre me fez evitar publicar os meus.


Mas, algumas pessoas que me conhecem (poucas, admito) vivem pedindo. E este negócio de enviar por e-mail ou msn, já tá mais arcaico que correios.


Eu pensei em criar um blog para isto, mas já tenho este aqui, e não é tempo de desperdício.


De mais a mais, não pretendo postar só escritos, mas de vez em quando um depoimento também, um caso... Enfim, o que me der na telha. Está no sub-título do blog de hoje em diante.


E ele deixa, a partir de agora de ser uma brincadeira "só minha", quero dizer que passo a divulgá-lo.
Seguem os primeiros textos. Prometo pelo menos um novo por semana, mas no começo serão mais. De brinde nesta primeira semana... um por dia! (Não perca! :-D).
Aboletem-se e fiquem à vontade.


Abraços.
PAPEL E CANETA
Este papel é um papel passivo,
Em minhas mãos ele foi branco e se manchou
Do fel que exala a caneta elétrica,
Que não se cala mesmo quando o corpo para,
E a lágrima escorre,
E é dor.
É de tanto doer, que ela se move,
Até que a dor morre,
No momento em que sou ator.

Sorrio, e a caneta pára,
Movo, e ela morre.
Inanição, talvez.

E talvez seja eu que me alimente
Da dor que a movimenta,
E de já não suportar mais: fuja, ou finja,
Ou corra, ou esconda, ou morra.
De tanto matar a dor de que a caneta fala.
SUBJUNTIVO
Talvez se eu finalmente escrevesse,
Uma coisa que, passível de ser-te mostrada,
Impressionasse.
Talvez se eu trancendesse
A modorrenta prudência de agora.
Talvez se eu fosse embora,
Pra depois voltar...
Ou então desfalecesse,
Caísse, quase morresse,
Talvez você viesse ver o que há!

Você não vem.
Estou seca, esquartejada,
despetalada,
Você não vem me olhar...

Talvez se eu revivesse,
Pintasse o rosto, colorisse a casa,
Vestisse, plantasse, exibisse, comentasse,
Despisse ou mudasse.
Talvez se eu desistisse, esquecesse,
Partisse...
Talvez se eu cantasse bem alto,
Se volitasse, fosse até você...
Talvez se eu andasse bem depressa,
Ou passeasse,
Talvez se insistisse, talvez se procurasse!

Talvez se você visse meu desespero,
Talvez você tentasse
Não me desprezar...
Talvez se eu chorasse, talvez te arrependesse,
Talvez te convencesse,
A não me abandonar...

Talvez te abraçasse, talvez me aconchegasse,
Talvez dormisse, talvez ronronasse,Talvez fluísse, derretesse, esgarçasse até que um dia evaporasse.



quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Eu Sobrevivi

Contra todas as previsões, eu sobrevivi. E bem.

O Natal foi mais religioso que a média, o que parece ter funcionado, de forma que estou cada vez mais propensa a acreditar em milagres.

O reveillon foi meio plastificado, mas pelo menos não fechei contrato com os ranzinzas que ficaram em casa de calças frouxas e depois foram se vangloriar no orkut de sua grande excentricidade. Botei um bom vestido de baile e encontrei amigos na beira da piscina. Clichê? Ao menos não é razão para contar vatagem.

E 2008, pasmem nasceu bissextado e perfeitinho. Deu uma trançada na minha vida. E eis que estou perdidamente apaixonada... E felicíssima! [Ohhhhhhhhhh!]

Você está curioso?

Eu estou roendo as unhas!!!

Pra não perder a fama de má, grrrrrrrrrrr pra você.

Tá, não colou, eu sei.

Até a próxima, invisíveis.