quarta-feira, 5 de novembro de 2008


ETERNIDADE


Sonho com esse nada de acabar-se
Sonho com continuar-se o nada.
É como se respirasse em um lugar despoluído,
Mas também desprovido de ar.
Um vácuo vastíssimo,
Num largo cânion
Em profundo precipício.
Um estar sem você tão forte,
Que você fosse tudo
E restasse só um pouco de infinito
Para eu morar.
E um resto de infinito é um lugar
Antes de tudo, insalubre.
Em que oprime o peito a saudade
Do vasto eterno que ficou para trás.
Passou e continuou eterno:
A imagem de um oásis que jamais se apagou
Na mente do sedento que morreu.
A visão da água que desvaneceu
Na areia escaldante, escarlate
Do deserto.
A figura dos justos felizes,
No dia do Juízo Final
Eu, condenado!
Um sonho tão real que deixou vestígios materiais,
Porém quase intangíveis,
Como a lágrima que escorre
Antes do lenço chegar.
Como o suor que evapora
E abandona a sensação do sal.
Como você que está comigo,
Eu que te esmurro, te xingo,
E recebo a indiferença dos seres inanimados,
Nem mesmo um suspiro de nunca mais,
Nem mesmo um lamento de sinto muito,
Nem mesmo um conter de lágrimas,
Nem mesmo um nada me resta,
Pois você está ali:
A um toque da mão,
A uma imensidão do ser.
Você é uma pedra que caiu no lago.
Fará lodo, e em milênios,
Talvez milhênios,
Esvairá.
Nascerá um lago com propriedades medicinais,
Útil, feio e enferrujado,
Necessário como necessário é tentar pela última vez.
Lá, destruído, derretido,
Dormirá você.
Banhando a doença,
Lambendo uma crosta de fim.

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